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sábado, 3 de julho de 2010

O que ficou do FILO...

Espetáculos bons, ruins, emocionantes, desprezíveis, e alguns que até agora não sei bem... Algumas opiniões:

“A TEMPESTADE” – CIA. DO CHAPITÔ

12/06/2010

“A Tempestade” é uma adaptação da obra de Shakespeare, encenada por John Mowat, e criada por três atores com técnica de improvisações em cima do texto.

O elenco conta toda a história do texto de Shakespeare utilizando pouquíssimo texto, que serve apenas para acentuar o trabalho criado por eles a partir de imagens construídas com o desenho cênico e a desenvoltura corporal do elenco.

Não utilizam figurino, e os adereços cênicos se limitam à um grande tecido preto e um livro velho, uma proposta do diretor que foi lançada como desafio e que eles tiram de letra.

Isso faz com que os atores não se acomodem e se apóiem com “muletas” cênicas, eles precisam se desdobrar para criar a partir de poucos elementos externos, o que exige um preparo anterior do elenco, muita bagagem pessoal, criatividade, e disposição. O elenco confirmou esta visão durante o bate-papo do dia 12/06, e em entrevista para a revista do FILO, que com a procura de novos significados para os objetos e o improviso descobriram que um tecido preto, pode revelar uma grande quantidade de imagens, porque a procura assenta muito na necessidade do entendimento de códigos universais.

Outra coisa que encanta no espetáculo é a constante energia dos atores em cena. Eles nunca parecem cansados, e vão crescendo em cena, de forma equilibrada, nenhum se sobressai ao outro, todos tem igual importância e o jogo cênico acontece de forma dinâmica e divertida. Percebe-se que os atores se divertem em cena, eles estão sempre entregues, sempre presentes.

Acho que “A Tempestade” é uma aula de interpretação, e um espetáculo motivador, que valoriza o trabalho do ator, e qualquer outro elemento que seja inserido, como sonoplastia e iluminação, vêm para dialogar e incrementar o trabalho do elenco que já é espetacular.


“DIES IRAE; EN EL RÉQUIEM DE MOZART”

- Cia. Marta Carrasco

20/06/2010

O espetáculo de dança-teatro de Marta Carrasco aborda uma temática de revolta contra a Igreja Católica e os dogmas por ela impressos na sociedade. A dramaturgia desenvolvida pela diretora se apóia no “juízo final”, para questionar e criticar a condição humana, especialmente a feminina, perante esta “justiça divina” imposta pela Igreja.

O coro de bailarinos (que contava neste dia com apenas um rapaz) se sobressai em relação aos atores, que em determinados momentos parecem não saber muito bem o que estão fazendo ali.

As coreografias, e os momentos em que o coro é destaque, mexem comigo e me emocionam. Parece-me que o grupo todo abraça a idéia de diretora, e por isso o defende com tanta intensidade em cena.

É um espetáculo feito com emoção e que causa muita emoção.

A variação de ritmos, e as imagens chocantes que são usadas no espetáculo, tornam-no dinâmico, e apesar de ser muito agressivo, é também divertido em alguns momentos com a ironia que é levada para a cena.


“GUERRA”- CIA. Pippo Delbono

23/06/2010

O espetáculo fala sobre a guerra de um modo que não te trata apenas de guerras políticas, mas da guerra universal, dentro de cada um de nós, e em nossas relações interpessoais.

A maior curiosidade deste espetáculo, é que ele mescla atoresmanicômios e atores comuns. Mas é difícil identificar quais são, pois isso passa despercebido em cena. Todos têm o mesmo domínio da técnica e da encenação do espetáculo, que é executado com perfeição, e que nos toca de forma profunda, pois é uma rasteira no ego de qualquer ator que se julga muito bom, mas não consegue ser tão generoso e sincero como os atores deste espetáculo. que já passaram por

O fato de alguns de eles terem alguma deficiência nesse caso não atrapalha, e até colabora para o processo criativo, pois eles têm uma capacidade de abstração, criatividade, e uma história de vida que proporciona algo que não sei denominar (seria talento?), mas que todos os atores buscam, e não sei se conseguem, se conseguem são raros.

Ao mostrar como pessoas marginalizadas podem lidar com os próprios problemas, utilizá-los para criar coisas belas, e formas de expressão, “Guerra” nos faz perceber que somos mais preconceituosos do que pensamos ser, mais perigosos do que pensamos ser, e que de perto, ninguém é normal.


“LIFE.stories”

Companhia Marc Scnittger

24/06/2010


“LIFE.stories” utiliza bonecos feitos com as mãos, apenas utilizando uma luva para fazer as roupas dos bonecos e colocando nas pontas do dedo indicador uma cabeça que parece uma bolinha de isopor.

A peça conta com um roteiro bem-humorado que se contextualiza ao local de apresentação, um recurso que aproxima o público q faz com que a peça ganhe credibilidade e prenda o espectador.

A riqueza de detalhes durante a manipulação também torna o espetáculo ainda mais interessante. O modo como o taxista mexe no volante, as mãos sem a luva para mostrar os “atores pornôs” durante a gravação, o jogo que eles fazem com ritmo e localização para mostrar que um personagem está perturbado e lembrando coisas que o foram ditas, a mudança de ângulo da cena que faz parecer um filme.

O espetáculo é muito cansativo para que o executa, os atores ficam de pé, e com os braços esticados para cima o tempo todo, manipulando os bonecos. Isso não interfere na execução dos movimentos, tanto que em determinados momentos se esquece de que são bonecos manipulados, de tão vivos que estão em cena.

“LIFE.stories” é um espetáculo divertidíssimo, que nos conta muitas histórias diferentes e as amarra muito bem, com final feliz e direito a bônus ao final do espetáculo, é sem dúvida um espetáculo que vai interferir muito para o meu processo de criação e as minhas escolhas em teatro.