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sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Conclusão do Ano - Parte I


Conheci o teatro na minha cidade, São José do Rio Preto-SP em 2005, quando ainda tinha 14 anos, e já sabia que queria ser atriz. Digo que conheci, porque apesar de já ter assistido algumas peças de teatro quando criança, e ter feito algumas “pecinhas” na escola, era muito superficial, não tinha um contato próximo e não era algo que fazia parte da minha realidade. A partir do dia 03/02/2005, o dia em que pela primeira vez estive dentro de um teatro para participar da reunião em que o Grupo Teatral Riopretense, iria escolher as peças que iria encenar naquele ano, foi quando mergulhei nesse oceano tão amplo que seria o teatro pra mim. Deste momento em diante, eu nunca mais teria dúvida em relação ao que eu queria para a minha vida: ser atriz.

Aprendi muito dentro deste grupo, e creio que foi ali que descobri o valor do estudo, da disciplina, do trabalho diário, do entrosamento da equipe e principalmente da paixão pelo teatro. É verdade que muitas destas coisas eu descobri justamente por sentir falta delas, era um grupo amador, e neste caso a importância dele para cada integrante do grupo, que era muito numeroso, era diferenciada. Enquanto alguns o tinham como um hobbie de final de semana, outros tinham como razão de viver, era o meu caso. Para mim, isso acontecia porque não havia dentro do grupo um compromisso profissional, eu acreditava que se todos considerassem o trabalho como sua profissão, seria levado mais a sério, e tanto o processo como o resultado, seriam mais satisfatórios. Mas é claro que eu, uma adolescente, não teria o poder de mudar a filosofia de um grupo, que já existia há 50 anos, em que todos os integrantes já eram adultos e tinham outras prioridades. Foi quando passei a participar de trabalhos de outros grupos.

Conheci diversos grupos e diretores, que possuíam metodologia de trabalho que não me agradavam. Eram extremos, ou muito grosseiros, ou muito relapsos, ou muito amadores, ou muito comerciais. Hoje vejo que o problema nestes grupos era sempre o excesso, eu que gostaria muito de trabalhar profissionalmente, conheci grupos em que por viver de teatro, a equipe se submetia a qualquer coisa. Outros eram profissionais apenas pelo fato de fazer da profissão um comércio daqueles no pior sentido da palavra, quase que um fast-food do teatro.

Não posso negar o quanto aprendi nestes grupos, e o modo como foram cruciais para que eu decidisse que era isto o que eu gostaria de fazer da minha vida. Eles me apresentaram o teatro, com todos os seus prós e contras, para que quando eu optasse por ele, soubesse exatamente qual o terreno em que estava pisando.

Mas percebi que para caminhar sobre este terreno, precisava de mais do que tinha vivenciado até então. Apresentaram-me o terreno, mas não me ensinaram a caminhar sobre ele, nem sequer me arranjaram um mapa. Queria ter autonomia para poder caminhar por este terreno, e sabia que isso seria fruto, única e exclusivamente do meu próprio trabalho. Já não encontrava mais o aprendizado, mas também não tinha segurança para que pudesse ter autonomia para criar. Tinha uma bagagem pequena para tomar as rédeas do meu próprio trabalho, mas já não concordava com os rumos que tomavam os grupos pelos quais eu já havia passado. Foi quando optei pelo curso de Artes Cênicas.

Desde o início do curso, percebi que encontraria o que esperava, melhorei minha postura, amadureci, aprendi a lidar com a diferença, passei a conhecer outros tipos de teatro, conheci teóricos que explicavam com exatidão muitas das coisas que eu esperava ouvir e esclareceram muitas coisas que eram de difícil compreensão pra mim. Mas ainda assim, não foi fácil, pois o processo de trabalho é muito diferenciado do que eu conhecia até então.

Identifiquei-me muito com o texto de Patricia Leonardelli, quando menciona suas dificuldades quando entra em contato com o treinamento de ator.

“Eu não imaginava que pudesse existir artisticamente independente dos contextos dramatúrgicos do texto escrito, das concepções estéticas do diretor, dos limites espaciais em que ocorriam as encenações. Porém, durante as aulas, na miséria e solidão a que meu corpo se reduzia após intermináveis e exaustivas atividades físicas, algo nascia, literalmente, dos escombros. (...) Nas primeiras aulas, simplesmente não conseguia elaborar quaisquer ações, sequer me mover. A criação sem o suporte do texto escrito parecia algo ridículo, um exercício de abstração e expressão corporal pura que poderia ser útil a dançarinos, mas nunca a Atores. Eu não sabia ainda, mas não produzia porque não havia quem me dissesse o que fazer, para onde me deslocar e com que intenção, e que sugerisse o meu comportamento expressivo. Meus recursos vocais eram razoavelmente desenvolvidos e os músculos mostravam-se alongados e fortes para o trabalho, porém o corpo parecia desintegrado do processo, como se não compreendesse a própria inteligência.” (LEONARDELLI, Patricia. pag. 26)

Quando li este texto, parecia um relato sobre o meu processo dentro da Universidade. Tive muitas dificuldades desde o início do curso para compreender o procedimento de trabalho e a nova rotina de vida. Cansava-me muito, ficava nervosa, e era questionada com freqüência, pelos professores e por mim mesma, sobre qual o teatro em que acredito, o que eu queria com o curso, o que eu esperava da profissão que eu escolhi. Ainda não respondi grande parte destes questionamentos, mas creio que alguns sejam difíceis de responder, mesmo depois de concluir a faculdade. Mas já estou controlando melhor a minha ansiedade, e começando a trabalhar com mais tranqüilidade e maturidade.

Isso se deu também pela compreensão daquilo que aprendi, técnica e filosoficamente, no decorrer dos dois anos de curso. Tive de me questionar, em vários momentos, e estive preocupada sobre que tipo de teatro que eu aprendia dentro da faculdade, se este teatro seria o que eu realmente gostaria de fazer. Hoje eu sei que aprendemos tudo dentro do curso, a opção do que pretendemos com isso, é que vai determinar qual tipo de teatro estamos exercitando.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Mulheres que correm com os lobos


"Todas nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas."
(CLARISSA PINKOLA ESTÉS, Ph.D. Cheyenne Wyoming)


domingo, 24 de outubro de 2010

A Intrusa Maurice Maeterlinck texto em português

Como procurei muito e não achei, acabei fazendo uma tradução (ruim) porque precisava ler mesmo então aproveitei. Meu Espanhol é péssimo, mas consegui pelo menos entender a história.

Maurice Maeterlinck
Prêmio Nobel de literatura de 1911

A INTRUSA

PERSONAGENS
O AVÔ. (É) cego.
O PAI.
TIO.
TRÊS FILHAS.
A IRMÃ DE CARIDADE.
A EMPREGADA.
A ação ocorre em tempos moderno.

ÚNICO ATO

Quarto muito sombrio em um castelo antigo. Porta à direita, porta à esquerda e pequena porta escondida em um canto. No fundo, vitrais, que domina no verde, e uma porta de vidro que se abre para um terraço. Grande flamenco assistir a um canto. Lâmpada.

AS TRÊS FILHAS. - Vem cá, meu avô, e sente-se sob a lâmpada..
O AVÔ. -Parece-me que há pouca luz aqui.
O PAI. -Vamos ao terraço ou devemos permanecer nesta sala?
O TIO. - Não seria mais para ficar aqui? Tem chovido toda a semana, e as noites são húmidas e frias..
FILHA MAIS VELHA. -No entanto, há estrelas.
O TIO. - Oh! : Estrelas não querem dizer nada.
O AVÔ. - É melhor que fiquemos aqui. Não sei o que pode acontecer.
O PAI. -Já não têm preocupações. Não há perigo, é seguro...
O AVÔ. –Não acho...
O PAI. - Por que você diz isso?
O AVÔ. -Eu ouvi sua voz.
O PAI. -Os médicos dizem que podemos ficar descansados ...
O TIO. -Bem sabes que seu sogro gosta de preocupar-se desnecessariamente.
O AVÔ. -Não vejo como vocês.
O TIO. - Bem, deve-se confiar em quem vê. Esta tarde foi maravilhosa. Sono profundo, e não vamos envenenar o sono na primeira noite nos dá essa chance ... Eu acho que nós temos o direito ao descanso, e até rir um bocado, sem receio esta noite.
O PAI. - É verdade, é a primeira vez que me sento na minha casa, inclusive a minha, após essa entrega terrível.
TIO. - Quando a doença entra em uma casa, parece um estranho na família.
O PAI. - Mas também, além da família, não se pode contar com ninguém.
O TIO. -Você tem razão.
O AVÔ. -Por que não pude ver hoje minha pobre filha?
O TIO. -Você sabe que seu médico proibiu.
O AVÔ. -Eu não sei o que pensar...
O TIO. -É inútil se preocupar com você.
O AVÔ. - (Apontando para a porta à esquerda) não pode nos ouvir?
O PAI. -Não vamos falar muito alto; a porta é muito grossa e, além disso, a irmã de caridade está com ela e nos avisará se fizermos muito ruído.
O AVÔ. - (“observando” a porta à direita.) A criança não pode nos ouvir?
O PAI. -Não, não
O AVÔ. -Está dormindo?
O PAI. -Eu acho que sim.
O AVÔ. -Podia ver...
O TIO. - Preocupa-me mais a criança de sua filha. E são várias semanas desde o nascimento, e praticamente não se moveu, até agora não chorou uma vez, como uma criança de cera.
O AVÔ. - Acho que vai ser surdo, mudo e talvez ... Isto que trazem os casamentos consanguíneos... (Silêncio reprovador.)
O PAI. -Quase tenho rancor pelo mal que causou a sua mãe.
O TIO. -Deve ser razoável; não é culpa dele, alegre-se! Está só no quarto?
O PAI. -Sim, o médico não quer estar no quarto com sua mãe.
O TIO. - Mas a enfermeira está com ele?
O PAI. - Não, foi descansar um momento, é bem merecido, depois de alguns dias. Ursula, vá ver se ele dorme bem.
FILHA MAIS VELHA. -Sim, pai. (As TRÊS FILHAS levantam-se de mãos dadas vêm para a sala da direita.)
O PAI. -Você sabe a que horas vai chegar nossa irmã?
O TIO. -Eu acho que virá às nove.
O PAI. -São já mais de nove horas. Eu gostaria que chegasse hoje à noite, minha esposa quer vê-la.
O TIO. -É certamente virá. É a primeira vez que vem aqui?
O PAI. -Nunca entrou nesta casa.
O TIO. -É muito difícil sair do convento.
O PAI. -Virá sozinha?
O TIO. – Suponho que seja acompanhada por uma das freiras. Não pode vir sozinha.
O PAI. -Ela é a superiora.
O TIO. -Regra é igual para todos.
O AVÔ. -Já não tem preocupação?
O TIO. - Por que nós vamos ter preocupações? Nenhuma conversa sobre mais do que isso. Já não há nada a medo.
O AVÔ. -Sua irmã é mais velha que você?
O TIO. -É a mais velha de todos nós.
O AVÔ. -Não sei o que acontece comigo, eu não me acalmo. Gostaria que sua irmã já estivesse aqui.
O TIO. -Virá. Ela prometeu.
O AVÔ. - Eu gostaria que ela chegasse já esta noite! (Voltam as três filhas.)
O PAI. -Você está dormindo?
FILHA MAIS VELHA. -Sim, pai, profundamente.
O TIO. -O que devemos fazer enquanto esperamos?
O AVÔ. -Enquanto esperamos o que?
O TIO. -Enquanto esperamos pela nossa irmã.
O PAI. -Não vem ninguém, Ursula?
FILHA MAIS VELHA. -(Na janela.) Não, pai
O PAI. - E na Avenida? Vê a Avenida?
A FILHA. -Sim, pai; há lua e vejo a Avenida para a floresta de cipreste.
O AVÔ. - E você não vê alguém?
A FILHA. -Ninguém, avô.
O TIO. –Como está o tempo?
A FILHA. -Muito bonito; você ouve os rouxinóis?
O TIO. -Sim, sim.
A FILHA. -Sobe um pouco de vento da Avenida
O AVÔ. -Um pouco de vento da Avenida?
A FILHA. -Sim; árvores tremem um pouco.
O TIO. -É estranho que minha irmã não esteja aqui.
O AVÔ. -Já não ouço os rouxinóis.
A FILHA. -Eu acredito que alguém tenha entrado no jardim avô.
O AVÔ. -Quem é?
A FILHA. -Eu não sei, eu não vejo ninguém.
O TIO. –É que não há ninguém.
A FILHA. -Deve haver alguém no jardim; os rouxinóis calaram logo.
O AVÔ. -No entanto, eu ouço passos.
A FILHA. -Seguro de alguém passar perto da lagoa, porque cisnes têm medo.
OUTRA FILHA. -Todos os peixes na lagoa afundaram.
O PAI. -Você não vê ninguém?
A FILHA. -Ninguém, pai.
O PAI. -No entanto, deve ver a lua na lagoa.
A FILHA. -Sim; os cisnes têm medo.
O TIO. - Estou certo que é minha irmã que assusta-os. Entrará através da porta pequena.
O PAI. –não entendo porque os cães não estão latindo.
A FILHA. -Veja o cão na parte inferior da casa. os cisnes vão no sentido da outra margem!
O TIO. - Medo da minha irmã. Vou ver. (Chama). Irmã! Irmã! Você está aí? Não há ninguém.
A FILHA. -Eu tenho certeza que alguém chegou no jardim.
O TIO. - Mas eu ia dizer.
O AVÔ. -Não voltam a cantar os rouxinóis, Ursula?
A FILHA. -Eu não ouvi nenhum em todo o campo.
AVÔ.- Não há nenhum ruído, sem embargo.
O PAI. -Há um silêncio de morte.
O AVÔ. -Deve ser um estranho, porque se fosse alguém de casa não se calariam.
O TIO. -Agora você vai se preocupar com os rouxinóis?
O AVÔ. -Estão todas as janelas abertas, Ursula?
A FILHA. -A porta de vidro está aberta, avô.
O AVÔ. -Parece-me que entra um vento frio.
A FILHA. -Faz um pouco de vento no jardim, avô e as rosas desfolham.
O PAI. -Feche a porta. É tarde.
A FILHA. -Sim, pai. Eu não posso fechar a porta.
OUTRAS DUAS FILHAS. -Não podemos fechar.
O AVÔ. –Filhas! O que acontece?
O TIO. - Você não deve dizer que, com essa voz estranha. Sou eu que vou ajudar.
FILHA MAIS VELHA. -Não conseguimos fechá-la completamente.
O TIO. - É a umidade. Empurremos em um momento. Há algo entre as folhas.
O PAI. -Carpinteiro amanhã o corrige.
O AVÔ. -Amanhã vem o carpinteiro?
A FILHA. -Sim, avô, vem trabalhar na caverna.
O AVÔ. -Vai fazer barulho em casa...!
A FILHA. -Deixe-me dizer-lhe que ele vai trabalhar com cuidado. (Ouvir, de repente, o ruído de uma foice que acirrou fora.)
O AVÔ. - (Estremecendo.) ¡Oh!
O TIO. -O que?
A FILHA. Eu não sei, acho que é o jardineiro. Eu não vejo isso, está na sombra da casa.
O PAI. Deve ser o jardineiro cortando a grama.
TIO. - Cortar a noite?
O PAI. - Não é domingo de manhã? Sim, eu tenho notado que a grama estava coberta ao redor da casa.
O AVÔ. -Parece-me que a foice faz muito ruído.
A FILHA. -Está tomando próximo à casa.
O AVÔ. –Você o vê, Ursula?
A FILHA. -Avô, não, está escuro.
O AVÔ. -Medo de que acorde minha filha.
O TIO. -Quase não o ouço.
O AVÔ. -Eu o ouço como se estivesse em casa.
O TIO. -O doente não ouve; há não cuidado.
O PAI. -Parece-me que a lâmpada não queima bem essa noite.
O TIO. -Será necessário para verificar o óleo.
O PAI. Eu vi ela derramou esta manhã. Queima mal desde que fechei a janela.
O TIO. -Eu acho que o tubo está manchado.
O PAI. -Agora queima melhor.
A FILHA. -Avô caiu no sono. Faz três noites não dorme.
O PAI. -Teve tanta preocupação!...
O TIO. - Estava preocupado mais do que ele deve fazer. Há momentos em que você não quer ouvir à razão.
O PAI. –Na sua idade é perdoável.
O TIO. -Sabe Deus como estaremos na sua idade!
O PAI. -Possui aproximadamente oitenta.
O TIO. -, Então, tem o direito de ser um tanto estranho.
O PAI. -É como todos os cegos.
O TIO. -Refletem um pouco mais.
O PAI. -Tem muito tempo a perder.
O TIO. -Não têm outra coisa a fazer.
O PAI. - E, além disso, estão sem distração.
O TIO. -Deve ser terrível.
O PAI. -Parece que se acostuma.
O TIO. -Não posso imaginar.
O PAI. -É verdade que são dignos de pena.
O TIO. , Não saber onde a pessoa vai, não saber de onde vem, não sabendo para onde vai, não distinguir o meio-dia, à meia-noite, inverno ou de verão ... e sempre essa escuridão, essa escuridão ... Prefiro não viver... é absolutamente incurável?...
O PAI. -Parece ser sim.
O TIO. - Mas não é completamente cego?
O PAI. -Distingue as luzes muito fortes.
TIO.- Protejamos nossos pobres olhos.
O PAI. - Elas muitas vezes dão idéias estranhas.
O TIO. -Há momentos em que não é muito divertido.
O PAI. –Ele diz tudo o que pensa.
O TIO. - Mas não era assim antes?
O PAI. - Não. Às vezes era razoável como nós. Eu não disse nada de extraordinário. Verdade é que Ursula dá-lhe asas. As respostas para todas as suas perguntas.
O TIO. - Seria melhor não responder, é fazer um desserviço.
O avô. - (Despertando.) Eu estou virado para a porta de vidro?
A filha. - Dormiu bem, vovô?
O avô. - Eu estou virado para a porta de vidro?
A filha. - Sim, vovô.
O avô. - Não há ninguém na porta de vidro?
A filha. - Não, vovô, não vejo ninguém.
O avô. -Eu achava que havia alguém esperando. Não foi ninguém?
A filha. - Não, vovô.
O avô. - (. Ao tio e pai) e sua irmã não veio?
TIO. - É muito tarde e não virá, que terá acontecido com ela.
O PAI. - Isso começa a me preocupar. (Ouve-se um barulho, como se alguém entrasse na casa.)
TIO. - Lá está ela! Você ouviu?
O PAI. - Sim, alguém veio por metro.
TIO. - É nossa irmã! Eu reconheci seu modo de andar.
O avô. - Eu ouvi caminhando lentamente.
O PAI. - Ela veio muito lentamente.
TIO. - Você sabe que está doente.
O avô. - Eu não ouço nada.
O TIO. -Subirá imediatamente; vão dizer que estamos aqui!
O PAI. –Fico feliz que tenha vindo!
O TIO. -Eu tinha certeza que viria esta noite.
O AVÔ. –Demora a subir...
O TIO. -No entanto, deve ser ela.
O PAI. -Não esperamos outra visita.
O AVÔ. -Eu não ouvi qualquer ruído lá embaixo.
O PAI. - Chamo a empregada, saberemos o que esperar. (O chamador dos travessos. Strip)
O AVÔ. -Já ouço barulho na escada.
O PAI. -É a empregada que sobe.
O AVÔ. -Parece-me que faz não vem sozinha.
O PAI. -Sobe lentamente...
O AVÔ. -Eu ouço os passos de sua irmã.
O PAI. -Eu ouço alguém além da empregada.
O AVÔ. -É sua irmã! é sua irmã! (Chamada porta pequena.)
O PAI. - Eu mesmo abrirei. (Entreabre_a_porta_pequena; _a_ CRIADA_ fica fora, _en_la_rendija.) Onde está?
A EMPREGADA DOMÉSTICA. -Aqui senhor.
O AVÔ. -É sua irmã no portão?
O TIO. -Eu não posso ver mais do que a empregada.
O PAI. - Não é mais do que a empregada. (A_la_ CRIADA.) Quem entrou em casa?
A EMPREGADA DOMÉSTICA. -Em casa?
O PAI. -Sim. Não chegou ninguém agora?
A EMPREGADA DOMÉSTICA. -Ninguém, Sr.
O AVÔ. -Quem suspira assim?
O TIO. -Empregada; é suprimida.
O AVÔ. -Você está chorando?
O TIO. -Não porque ia chorar?
O PAI. - (A_la_ CRIADA.) Ninguém entrou agora?
A EMPREGADA DOMÉSTICA. -Não, Senhor.
O PAI. -Mas se ouvimos a porta!
A EMPREGADA DOMÉSTICA. –Fui eu que fechei a porta!
O PAI. -Ela foi aberta?
A EMPREGADA DOMÉSTICA. -Sim, Senhor
O PAI. -Porque ele estava aberto a estas horas?
A EMPREGADA DOMÉSTICA. - Eu não sei Senhor. Eu tinha fechado.
O PAI. -Mas depois, quem abriu?
A EMPREGADA DOMÉSTICA. - Eu não sei, Senhor. Haverá alguém que saiu depois.
O PAI. - Tenha cuidado. Mas você não empurre a porta. Bem, você sabe que faz barulho!
A EMPREGADA DOMÉSTICA. - Mas, Senhor, não toquei na porta!
O PAI. - Sim você empurra, como se quisesse entrar na sala!
A EMPREGADA DOMÉSTICA. - Mas, Senhor, se eu sou três passos da porta!
O PAI. -Você fala um pouco mais baixo.
O AVÔ. – Você apagou a luz?
FILHA MAIS VELHA. –Não, avô.
O AVÔ. -Parece-me que escurece.
O PAI. - (A CRIADA.) Desça você, mas novamente, nenhum ruído na escada.
A EMPREGADA DOMÉSTICA. -Eu não fiz barulho.
O PAI. – Eu digo que você fez barulho; desça lentamente; para não despertar a senhora. E se alguém vier, diz que não estamos.
O TIO. -Sim; diga que não estamos.
O AVÔ. - (Estremecendo.) Não! isso, não!
O PAI. -Não sendo minha irmã e médico.
O TIO. -Que hora virá médico?
O PAI. - Você não pode vir antes da meia-noite. (Fecha a porta). (Ouvir dar onze).
O AVÔ. –Já entrou?
O PAI. -Quem?
O AVÔ. –A empregada.
O PAI. -Não; desceu novamente.
O AVÔ. -Eu pensei que estava sentada à mesa.
O TIO. -A empregada?
O AVÔ. -Sim.
O TIO. –Era o que faltava...!
O AVÔ. -Ninguém entrou na sala?
O PAI. -Não, não, não entrou ninguém.
O AVÔ. - E sua irmã não está aqui?
O TIO. -Nossa irmã não veio.
O AVÔ. -Querem me enganar?
O TIO. -Enganá-lo?
O AVÔ. -Ursula, me diga a verdade, pelo amor de Deus!
FILHA MAIS VELHA. - Vovô! Avô! O que há de errado?
O avô. - Alguma coisa aconteceu! Tenho certeza que minha filha está pior! ...
TIO. - Você está sonhando?
O avô. - Não quer me dizer ...! Eu vejo alguma coisa! ..
TIO. "Nesse caso, você vê melhor do que nós.
O AVÔ. -Ursula, me diga a verdade!
FILHA MAIS VELHA. -Mas, avô, nós dizemos a verdade!
O AVÔ. -Você não tem a voz sempre!
O PAI. -É que assusta você!
O AVÔ. -Também mudou a tua voz!
O PAI. - Mas você está louco? (O pai e o tio são sinais de cumplicidade para convencer a avó perdeu a cabeça.)
O AVÔ. –Bem, entendo que vocês tem medo!
O PAI. - Mas do que é que vamos ter medo?
O AVÔ. -Por que vocês querem me enganar?
O TIO. –Quem tem intenção de enganá-lo?
O AVÔ. -Por que você apagou a luz?
O TIO. -Mas se nós não apagamos a luz! É tão claro como antes!
A FILHA. -Parece-me que a luz que ilumina menos.
O PAI. -Eu vejo como claro como de costume.
O AVÔ. -Tenho rodamoinho nos olhos! Minhas filhas, digam-me o que acontece aqui! Diga-me, pelo amor de Deus, você que vê! Aqui estou sozinho, na escuridão sem fim! Não sei quem vem a se sentar ao meu lado! Não sei o que está acontecendo a dois passos de mim!... Por que você está falando baixinho agora?
O PAI. -Ninguém falou em voz baixa.
O AVÔ. - Você falou baixinho na porta.
O PAI. -Você ouviu o que eu disse.
O AVÔ. -Você viu quem chegou na sala.
O PAI. – Mas eu disse que ninguém chegou!
O AVÔ. –Foi sua irmã ou um padre? Não tente enganar-me. Ursula, quem entrou?
A FILHA. -Ninguém, avô.
O AVÔ. -Não tentem enganar-me. Eu sei o que eu sei. Quantos estamos aqui?
A FILHA. - Somos seis em torno da mesa, o avô.
O AVÔ. - Estão todos em volta da mesa?
A filha. "Sim, vovô.
O avô. - Você está aí, Paulo?
O PAI. "Sim.
O avô. - Você está aí, Oliver?
TIO. "Sim, sim, eu estou aqui no meu lugar habitual. Não a sério o que você diz, certo?
O AVÔ. –Está aí, Genevieve?
UMA DAS FILHAS. -Sim, avô.
O AVÔ. – Está aí, Gertrude?
OUTRA FILHA. -Sim, avô.
O AVÔ. -Está aqui, Ursula?
FILHA MAIS VELHA. -Sim, avô ao seu lado.
O AVÔ. - E quem está sentado lá?
A FILHA. - Onde, avô? Não há ninguém.
O AVÔ. –Quem está lá?!
A FILHA. –Ninguém, avô.
O PAI. -Lhe disse que não há ninguém!
O AVÔ. - Mas você não vê!
O TIO. -Vamos lá, você está querendo piadas.
O AVÔ. -Não tenho vontade de brincar, eu lhe asseguro.
O TIO. -Então você acredite em quem vê.
O AVÔ. - (Indeciso.) Eu digo que há alguém... Eu acho que não vai viver muito tempo.
O TIO. –Porque enganaríamos você? Pra que nos serviria?
O PAI. -Deve terminar dizendo a verdade.
TIO .-Para que enganar uns aos outros?
O PAI. -Não poderia seguir erro muito tempo.
O AVÔ. -(Trying to lift it.) Gostaria de passar por essas trevas!
O PAI. -Onde você quer ir?
O AVÔ. -Esse lado...
O PAI. -Não ser altere assim...
O TIO. -Você está estranho esta noite.
O AVÔ. –Vocês que me parecem estranhos!
O PAI. -O que você está procurando?
O AVÔ. -Eu não sei o que eu tenho!
FILHA MAIS VELHA. -Avô, avô! O que quer, avô?
O AVÔ. -Me dêem suas mãozinhas minhas filhas!
AS TRÊS FILHAS. -Sim, avô...
O AVÔ. -Por que tremem as três, minhas filhas?
FILHA MAIS VELHA. –Quase não trememos, avô.
O AVÔ. -Eu acho que devem estar pálidas.
FILHA MAIS VELHA. -É tarde, avô, e estamos cansados.
O PAI. -"Você tem de ir se deitar, e o avô faria bem também em descansar um pouco.
O avô. - Eu não consegui dormir essa noite!
O TIO. -Esperamos que o médico...
O AVÔ. -Me prepare para a verdade!
O TIO. -Mas se não há nenhuma verdade!
O AVÔ. -Então não sei o que!
O TIO. -Digo que nada acontece!
AVÔ.- Eu gostaria de ver a minha pobre filha!
O PAI. - Mas se você sabe que é impossível! Não devemos desnecessariamente despertar!
TIO. "Você vai ver amanhã.
O avô. "Eu não ouvi nenhum barulho no quarto.
TIO. Se ouvisse um barulho, eu estaria preocupado.
O AVÔ. - Há muito tempo que eu não vi a minha filha ...! Peguei suas as mãos à noite e não a via! ... Eu não sei o que é! ... Eu não sei como ... E eu sei que o seu rosto ... Ele deve ter mudado nestas semanas! ... Senti-me os ossos de seu rosto em minhas mãos ... Existe apenas uma escuridão entre ela e eu e todos vocês! Eu não posso viver assim! Isso não é vida! ... Está tudo lá, com os olhos abertos, olhando para meus pobres olhos mortos, e nem um de vocês tem compaixão! ... Eu não sei o que eu tenho ... Nunca diga que deveria ser dito ... e tudo é assustador quando você pensa sobre isso! ... Mas por que não falar!
TIO. - O que você quer dizer, já que você não acredita em nós?
O avô. - Tenho medo de traição!
O PAI. Mas faz o favor de ser razoável!
O AVÔ. – Há muito tempo que eu escondo uma coisa ...! Foi uma coisa nesta casa ... Mas agora começo a entender ... Por muito tempo me enganaram! Vocês fingem que eu nunca vou saber alguma coisa? Há momentos em que estou menos cego do que vocês, vocês não sabem? ... Eu não ouço você sussurrando por dias e dias, como se você estivesse na casa de um enforcado? Esta noite não me atrevo a dizer o que eu sei ... Mas eu sei a verdade! ... Vou esperar falar a verdade, mas eu sei que há algum tempo que, apesar de você! E agora eu sinto que todos vocês estão mais pálidos do que morto!
As três filhas. - Vovô! Avô! O que é isso, vovô?
O AVÔ. -Eu não falo de vocês, minhas filhas, não, eu não falo para vocês... Eu sei que vocês diriam a verdade, se eles não estivessem ao seu redor! ... E, além disso, tenho certeza que você também se enganam ... Vocês vão ver, filhas, vocês vão ver! ... Não chorem ao ouvir meninas?
O PAI. Mas minha esposa está realmente em perigo?
O AVÔ. -Não há nenhuma tentativa de enganar-me; é muito tarde e eu sei a verdade melhor do que você!
O PAI. – Você quer entrar no quarto da sua filha? Está aqui um equívoco e um erro que deve acabar. Você quer?
O AVÔ. -(De repente inseguro.) Não, não, agora não... ainda não...
O TIO. -Agora vê que você não é razoável.
O AVÔ. - Quem sabe tudo que um homem não poderia dizer em sua vida ...! Quem faz esse som?
FILHA MAIS VELHA. -É a luz que bate, avô.
O AVÔ. -Eu acho que ele está muito preocupado...muito quieto...
A FILHA. - Mas o vento frio aperta.
TIO. "Nenhum vento frio, as janelas estão fechadas.
A filha. "Eu acho que vai sair..
O PAI. -Já não é óleo.
A FILHA. -Apaga por completo.
O PAI. -Não poderia ser tão escuro.
O TIO. - Por que não? Estou acostumado.
O PAI. -Há luz no quarto com minha mulher.
O TIO. -Agora o traremos, quando chegar o médico!
O PAI. – É verdade que se vê bastante com a claridade lá fora!
O AVÔ. –Lá fora está claro?
O PAI. -Mais claro que aqui.
O TIO. -Eu gosto de falar no escuro.
O PAI. - Eu também. (Pausa)
O AVÔ. -Parece-me que o relógio faz muito ruído.
FILHA MAIS VELHA. -É que não estamos a falar, avô.
O AVÔ. -Mas porque vocês todos os calaram-se?
O TIO. -Do que
você quer falar?
O AVÔ. –A sala está completamente escura?
O TIO. - Não é muito clara. (Pausa)
O AVÔ. - Não estou bem, Ursula. Abra uma janela pequena.
O PAI. -Sim, minha filha, abre uma pequena janela; também estou começando a sentir necessidade de ar. (La_ HIJA_ abre_la_ventana.)
O TIO. –Creio que positivamente elas tenham ficado fechadas por muito tempo.
O AVÔ. - A janela está aberta?
A FILHA. -Sim, avô, bem abertas.
O AVÔ. - Não diria que é aberto. Não vem qualquer ruído exterior.
A FILHA. -Não, avô, não há nenhum ruído.
O PAI. -Há um silêncio extraordinário.
A FILHA. -Você ouviria o caminhar de um anjo.
O TIO. -Por isso que eu não gosto de campo.
O AVÔ. -Eu gostaria de ouvir um pouco de ruído. Que horas são, Ursula?
A FILHA. –Já é meia-noite, avô. (Aqui o tio começa a andar de uma lado a outro da sala.)
O AVÔ. -Que é, ao nosso redor?
O TIO. – Sou eu; não tem medo. Preciso caminhar um pouco. (Pausa). Mas voltarei a sentar. Não vejo onde eu estou. (Pausa)
O AVÔ. -Eu gostaria de estar em um outro lugar.
A FILHA. -Onde você quer ir, avô?
O AVÔ. -Eu não sei onde... para outra sala, em qualquer lugar!
O PAI. -Onde nós iríamos?
O TIO. - É demasiado tarde para ir para outro lugar. (Pausa). (São derredor sentado, imóvel, tabela.)
O AVÔ. -O que ouço, Ursula?
A FILHA. -Nada, avô, são as folhas que caem no terraço.
O AVÔ. -Feche a janela, Ursula
A FILHA. -Sim, avô. (Fecha a janela e retorna ao sentar-se.)
O AVÔ. -Eu tenho um resfriado. (Pausa). (TRÊS FILHAS se abraçam.) O que eu ouço agora?
O PAI. -São três irmãs que se abraçam.
O TIO. - Eu acho que esta noite são muito pálidas. (Pausa)
O AVÔ. -O que eu ouço
A FILHA. -Nada, avô, é que cruzei as mãos. (Pausa)
O AVÔ. - E agora?
A FILHA. -Eu não sei, avô, talvez minhas irmãs que tremem um pouco...
O AVÔ. - Eu também tenho medo, minhas filhas.
(Aqui entra um raio de luar através de um canto das janelas e espalhadas aqui e ali olhares estranhos ao redor da sala. O som do carrilhão de doze, e com o último acidente vascular cerebral parece muito vagamente ouviu um som como alguém que se levanta com pressa.)
O AVÔ. -(Estremecendo com horror.) Quem levantou?
O TIO. –Ninguém.
O PAI. -Eu não posso ter levantado!
AS TRÊS FILHAS. - Nem eu! Nem eu! Nem eu!
O AVÔ. -Alguém levantou da mesa!
O TIO. A Luz !... (Aqui é de repente ouviu um gemido de horror, direito, o quarto filho e este gemido continua com gradações de horror até o fim da cena.)
O PAI. -Ouça! O menino!
O TIO. -Nunca chorou!
O PAI. -Venha ver!
O TIO. -A luz! (Neste momento, ouviu passos apressados e executar o surdo na sala de esquerda. Depois, um silêncio de morte. Ouça no terror mudo até a porta do quarto se abre lentamente e clareza de ficar se espalha nas proximidades de o quarto, e a irmã de caridade aparece na porta, as vestes negras, e inclina-se, fazendo o sinal da cruz, para anunciar a morte da mulher. Entender e, após um momento de indecisão e terror, silenciosamente entrar na sala mortuária, enquanto a DBO na porta, vira as costas educadamente para passar os três filhas. O avô, que está sozinho, se levanta e sacode, tateando ao redor da mesa, no escuro.)
O AVÔ. -Onde você está indo? onde você está indo?... me deixaram em paz!

"FIM DE A INTRUSA"

sábado, 3 de julho de 2010

O que ficou do FILO...

Espetáculos bons, ruins, emocionantes, desprezíveis, e alguns que até agora não sei bem... Algumas opiniões:

“A TEMPESTADE” – CIA. DO CHAPITÔ

12/06/2010

“A Tempestade” é uma adaptação da obra de Shakespeare, encenada por John Mowat, e criada por três atores com técnica de improvisações em cima do texto.

O elenco conta toda a história do texto de Shakespeare utilizando pouquíssimo texto, que serve apenas para acentuar o trabalho criado por eles a partir de imagens construídas com o desenho cênico e a desenvoltura corporal do elenco.

Não utilizam figurino, e os adereços cênicos se limitam à um grande tecido preto e um livro velho, uma proposta do diretor que foi lançada como desafio e que eles tiram de letra.

Isso faz com que os atores não se acomodem e se apóiem com “muletas” cênicas, eles precisam se desdobrar para criar a partir de poucos elementos externos, o que exige um preparo anterior do elenco, muita bagagem pessoal, criatividade, e disposição. O elenco confirmou esta visão durante o bate-papo do dia 12/06, e em entrevista para a revista do FILO, que com a procura de novos significados para os objetos e o improviso descobriram que um tecido preto, pode revelar uma grande quantidade de imagens, porque a procura assenta muito na necessidade do entendimento de códigos universais.

Outra coisa que encanta no espetáculo é a constante energia dos atores em cena. Eles nunca parecem cansados, e vão crescendo em cena, de forma equilibrada, nenhum se sobressai ao outro, todos tem igual importância e o jogo cênico acontece de forma dinâmica e divertida. Percebe-se que os atores se divertem em cena, eles estão sempre entregues, sempre presentes.

Acho que “A Tempestade” é uma aula de interpretação, e um espetáculo motivador, que valoriza o trabalho do ator, e qualquer outro elemento que seja inserido, como sonoplastia e iluminação, vêm para dialogar e incrementar o trabalho do elenco que já é espetacular.


“DIES IRAE; EN EL RÉQUIEM DE MOZART”

- Cia. Marta Carrasco

20/06/2010

O espetáculo de dança-teatro de Marta Carrasco aborda uma temática de revolta contra a Igreja Católica e os dogmas por ela impressos na sociedade. A dramaturgia desenvolvida pela diretora se apóia no “juízo final”, para questionar e criticar a condição humana, especialmente a feminina, perante esta “justiça divina” imposta pela Igreja.

O coro de bailarinos (que contava neste dia com apenas um rapaz) se sobressai em relação aos atores, que em determinados momentos parecem não saber muito bem o que estão fazendo ali.

As coreografias, e os momentos em que o coro é destaque, mexem comigo e me emocionam. Parece-me que o grupo todo abraça a idéia de diretora, e por isso o defende com tanta intensidade em cena.

É um espetáculo feito com emoção e que causa muita emoção.

A variação de ritmos, e as imagens chocantes que são usadas no espetáculo, tornam-no dinâmico, e apesar de ser muito agressivo, é também divertido em alguns momentos com a ironia que é levada para a cena.


“GUERRA”- CIA. Pippo Delbono

23/06/2010

O espetáculo fala sobre a guerra de um modo que não te trata apenas de guerras políticas, mas da guerra universal, dentro de cada um de nós, e em nossas relações interpessoais.

A maior curiosidade deste espetáculo, é que ele mescla atoresmanicômios e atores comuns. Mas é difícil identificar quais são, pois isso passa despercebido em cena. Todos têm o mesmo domínio da técnica e da encenação do espetáculo, que é executado com perfeição, e que nos toca de forma profunda, pois é uma rasteira no ego de qualquer ator que se julga muito bom, mas não consegue ser tão generoso e sincero como os atores deste espetáculo. que já passaram por

O fato de alguns de eles terem alguma deficiência nesse caso não atrapalha, e até colabora para o processo criativo, pois eles têm uma capacidade de abstração, criatividade, e uma história de vida que proporciona algo que não sei denominar (seria talento?), mas que todos os atores buscam, e não sei se conseguem, se conseguem são raros.

Ao mostrar como pessoas marginalizadas podem lidar com os próprios problemas, utilizá-los para criar coisas belas, e formas de expressão, “Guerra” nos faz perceber que somos mais preconceituosos do que pensamos ser, mais perigosos do que pensamos ser, e que de perto, ninguém é normal.


“LIFE.stories”

Companhia Marc Scnittger

24/06/2010


“LIFE.stories” utiliza bonecos feitos com as mãos, apenas utilizando uma luva para fazer as roupas dos bonecos e colocando nas pontas do dedo indicador uma cabeça que parece uma bolinha de isopor.

A peça conta com um roteiro bem-humorado que se contextualiza ao local de apresentação, um recurso que aproxima o público q faz com que a peça ganhe credibilidade e prenda o espectador.

A riqueza de detalhes durante a manipulação também torna o espetáculo ainda mais interessante. O modo como o taxista mexe no volante, as mãos sem a luva para mostrar os “atores pornôs” durante a gravação, o jogo que eles fazem com ritmo e localização para mostrar que um personagem está perturbado e lembrando coisas que o foram ditas, a mudança de ângulo da cena que faz parecer um filme.

O espetáculo é muito cansativo para que o executa, os atores ficam de pé, e com os braços esticados para cima o tempo todo, manipulando os bonecos. Isso não interfere na execução dos movimentos, tanto que em determinados momentos se esquece de que são bonecos manipulados, de tão vivos que estão em cena.

“LIFE.stories” é um espetáculo divertidíssimo, que nos conta muitas histórias diferentes e as amarra muito bem, com final feliz e direito a bônus ao final do espetáculo, é sem dúvida um espetáculo que vai interferir muito para o meu processo de criação e as minhas escolhas em teatro.



sexta-feira, 28 de maio de 2010

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare


— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

MANUEL BANDEIRA

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Canto pra Ogum

Zeca Pagodinho & Jorge Ben Jor

Eu sou descendente zulu
Sou um soldado de ogum
Um devoto dessa imensa legião de Jorge
Eu sincretizado na fé
Sou carregado de axé
E protegido por um cavaleiro nobre

Sim vou na igreja festejar meu protetor
E agradecer por eu ser mais um vencedor
Nas lutas nas batalhas
Sim vou no terreiro pra bater o meu tambor
Bato cabeça firmo ponto sim senhor
Eu canto pra Ogum

Ogum

Ogum
Um guerreiro valente que cuida da gente que sofre demais

Ogum
Ele vem de aruanda ele vence demanda de gente que faz

Ogum
Cavaleiro do céu escudeiro fiel mensageiro da paz

Ogum
Ele nunca balança ele pega na lança ele mata o dragão

Ogum
É quem da confiança pra uma criança virar um leão

Ogum
É um mar de esperança que traz abonança pro meu coração

Ogum

Ooogum
(Jorge Ben Jor)

Deus adiante paz e guia
Encomendo-me a Deus e a virgem Maria minha mãe ..
Os doze apóstolos meus irmãos
Andarei neste dia nesta noite
Com meu corpo cercado vigiado e protegido
Pelas as armas de são Jorge
São Jorge sentou praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tendo pés não me alcancem
Tendo mãos não me peguem não me toquem
Tendo olhos não me enxerguem
E nem em pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo o meu corpo não alcançará
Facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é da Capadócia.

Salve Jorge!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A busca e o encontro da fórmula da autenticidade...Entre outras coisas...

Um turbilhão de coisas lindas e tristes me aconteceu nesses últimos dias...
1. No domingo de Páscoa, estava sozinha na frente da casa de uma amigo, quando passou um garoto pobrezinho vendendo cestas com a avó, e me perguntou se eu tinha bolacha... No domingo de Páscoa, com um monte de chocolate na minha casa, e o menino com fome me pedindo bolacha... Na hora só fiquei com pena e disse que não... Quando meu namorado e nosso amigo apareceram, eu perguntei se algum deles tinha alguma coisa, e meu namorado tirou um pacote de beliscão da bolsa... Fui correndo procurar o garoto... Quando encontrei, estava como a avó, a mãe, e vários irmãozinhos, sentados na rua, e quando eu me aproximei, eles nem olharam pra mim, se atiraram sobre o pacote e tomaram das minhas mãos... Estavam esfomeados... Eram muitos, aquilo provavelmente não daria pra nada, a mãe, me olhou com uma gratidão enorme e deu um sorriso, na hora, estava em choque... Apenas retribuí o sorriso, mas com um nó na garganta... Quando estava longe chorei sem parar... Me perguntei sobre qual a minha função nesse mundo, que artista convive com isto sem mudar esta situação? Não sabia o que fazer... e ainda não sei...
2. Já estava me sentindo a pior das criaturas, por viver neste mundo e não fazer nada pra mudar, quando a professora Thais D`Abronzo me fez questionar o porquê estou na Universidade, porquê faço teatro, no que acredito... Chorei sem parar novamente... Uma coisa reafirmava a outra...
3. Parei para escrever um trabalho para a mesma professora, mas de outra disciplina, sobre experiências em aula + o filme "Janela da Alma"+ o livro "Água Viva" da Clarice Lispector = subjetividades das mais variadas formas e mais questionamentos sobre o mundo em que vivo e minha função como artista. (Também recorri à ajuda de amigos da minha sala, alguns mais velhos de cursso que eu, o meu queridíssimo amigo Rodrigo, que me ajudou muito, a minha amada amiga e mestra Sandra Parra, mas depois posto o resultado disso) Um pouco das coisas se elucidaram, surgiram novos problemas, mas pelo menos recarreguei as energias para lidar com eles. Estava menos angustiada.
4. Na aula de Teatro de Animação (novamente a prof. Thais) passou um exercício que pra mim foi fundamental para mudar tudo isso. O exercício era equilibrar uma vareta, "animá-la". E ao ser corrigida em relação à este exercício, me dei conta do que estava fazendo... Enquanto manipulava o objeto, ele deveria ser o foco de atenção, e eu tinha que me adaptar à ele e não ele à mim... Era o que eu estava fazendo com as coisas que me angustiavam... Não tenho que trazer estes problemas para o meu mundo e filosofar sobre eles... Tenho que me inserir neste mundo e fazendo parte dele transformá-lo...
5. No final de semana, assisti ao espetáculo "CUIDADO UN PAYASO MALO, PUEDE ARUINAR TU VIDA" do Palhaço CHACOVACHI. No caso, um grande palhaço recheou de novas esperanças a minha vida, pois reconheci nele tudo o que eu mais quero fazer...
6. Hoje, assisti a uma palestra com Chacovachi (Payaso Tecermundista), que me trouxe uma série de inquietações deliciosas, e uma vontade louca de ir pra rua... (falarei mais sobre em outro post) Mas a melhor coisas que este novo ídolo me trouxe foi a seguinte frase, que pra ele define a construção de um palhaço da forma mais pura possível, que segundo ele é de um filme do Almodóvar: "A única forma de ser autêntico é se parecer com os próprios sonhos."
Logo coloco aqui aquelas coisas que prometi acima...
Até loguinho amores!

terça-feira, 23 de março de 2010

Programação da Londrina Mostra de Teatro e Circo 2010

Por que falar só do meu espetáculo?
Aqui está a programação...
Acompanhem... e divirtam-se!

Eu ainda estou aqui...

Pra quem pensou que o último tópico foi uma despedida, não foi não...
Eu só estou mais distante, é verdade!
Voltaram todos os meus compromissos, e eu estou bem atribulada...
Mas sempre que puder postarei aqui...
Para contar as novidades, dia 29/03 segunda, as 15h. apresento o meu espetáculo "O Palhaço e a Bailarina" no Sesc Londrina...
Fico feliz em retomar o espetáculo em um evento da Universidade e do Sesc e já saber que a casa estará cheia, isso é raro...
Estou batalhando por trabalho, estágio, ou qualquer coisa que seja lucrativa financeiramente, além de batalhar pelo meu espaço no mercado de trabalho em Londrina e em Rio Preto, na sociedade em geral, na minha própria vida, e pela vontade de batalhar...
Depressivo isso? Não, eu já estive pior! Agora estou apenas tentando me organizar...
É difícil pra uma canceriana como eu fazer aquela faxina e jogar as coisas fora...
Mas um dia eu consigo...
Vocês saberão...

Abraços!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Fazendo as malas...

Estou me preparando para voltar à labuta...
Há tempos não me sinto tão emplogada, uma vontade louca de estudar, trabalhar, cuidar da minha casinha, fazer comidinhas, rever os amigos...
Tenho pra mim que agora que o ano começa de verdade ele vai ser melhor do que o que passou...
Muitas coisas novas, muitos projetos novos, tudo renovado!
Estou perdidamente apaixonada por tudo o que estava adormecido dentro de mim, chegou a hora de recomeçar...
Vamos à luta!

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Como não se tornar um crítico ?

De uns tempos pra cá tenho me preocupado muito com meu senso crítico, pois dificilmente assisto algum espetáculo que me agrada. Sempre tem algo que me incomoda muito, que eu acho não é bom... Isso é natural quando se assiste muita coisa...
O senso crítico se desenvolve naturalmente, e mesmo que um espetáculo não seja bom, ainda assim vale a pena assistir e saber o porque não é bom, assim que se aprende a fazer teatro. No começo gostamos de tudo o que vemos... Pois é magico assistir teatro, assim como cinema, televisão, literatura, artes plásticas, música e qualquer tipo de manifestação artística... A gente muitas vezes gosta de tudo o que conhece pois não conhece mesmo muita coisa... Então cabe na nossa cabeça todo tipo de informação que chega... Por isso, a falta de senso crítico não é culpa nossa, nem dos nossos pais, enfim a culpa é do planeta em que a gente vive, que enfia a cultura de massa na nossa cabeça e nos faz ter preguiça de buscar algo mais interessante, pois acreditamos que só é bom aquilo que chega pra gente, é um círculo vicioso que sugere uma discussão mais profunda...
Mas, voltando ao assunto, hoje eu gostaria de falar da outra face do problema... Quando se vê coisas demais, e passa não achar graça naquilo, percebe-se que as receitas se repetem, que o trabalho não é levado a sério, ou mesmo que simplesmente não agrada, mesmo que tudo esteja correto... É um risco que se corre quando se escolhe uma profissão, você pode não ser um bom profissional, mas aprende a avaliar os outros rapidinho... O problema é que aquilo que você mais gostava, começa a não ser mais tão emplogante, pois você já se acotumou e percebe que todos tem dificuldades como você...
Estava difícil me emocionar ou me divertir com um espetáculo ultimamente... Mas ontem eu vi algo que me deixou realmente aliviada. Um espetáculo de bonecos chamado "Zero" da Cia. Mevitevendo, no Sesc de Rio Preto, que era simplesmente lindo! Grandes atores, bonito cenário, bom figurino, bonecos lindos, trilha delicada, um espetáculo de muita sensibilidade! Márcia Adriana Fernandes Silva e Cleber Pereira Laguna estão de parabéns pela responsabilidade em optar por Teatro de Animação e por Teatro para Criança, e fazer isso com maestria, sem cair nos clichês destas duas vertentes tão marginalizadas por profissionais incompetentes que optam por elas justamente por não saber o quanto são difíceis de fazer. Pois então, graças ao espetáculo da Mevitevendo, eu me lembrei o porquê de escolher esta profissão... É porque apesar de tudo, ainda existem profissionais como estes, que levam a coisa a sério, que trabalham com prazer, que emocionam o seu público, que respeitam o seu público por saber que ele é parte fundamental no processo de criação, e porque antes de gostar de ser atriz, eu gosto de ser público!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O LIMITE DA MEDIOCRIDADE ALCANÇADA

Eu li este artigo e tinha guardado no meu computador, só hoje decidi divulgá-lo...
Acho um pouco radical quando ele fala de teatro comercial e projeto escola, mas é porque na maioria das vezes as pessoas realmente não levam isto a sério, mas eu acredito no valor do teatro comercial, e penso que o preconceito só acontece porque é o que mais se vê por aí... Enfim, ele se posiciona de forma inteligente e eu concordo com a sua posição... LEIAM!


O LIMITE DA MEDIOCRIDADE ALCANÇADA

Por Julio Carrara - 19/12/06


Eu gostaria de saber o que acontece com determinados “atores”. O que querem afinal? Ser ator ou ser famoso? Ser ator é uma coisa e ser famoso é outra, completamente diferente.
É fácil ficar famoso. Olhem os mandamentos abaixo
1. Tenha um corpo sarado e um rostinho angelical.
2. Seja fútil.
3. Não precisa saber falar corretamente o português.
4. Ande por aí sem calcinha.
5. Tenha muita grana.
6. Se inscreva no “Big Brother“.
7. Se conseguir entrar naquela merda, pode ter certeza que ao sair de lá, você imediatamente pousará no Paparazzo, Playboy ou G Magazine, em fotos sensuais.
8. Posteriormente entrará num programa humorístico de péssima qualidade ou ganhará um papel de coadjuvante numa novela do horário nobre, mesmo sem ser capacitado para isso.
9. Pra que ser capacitado, se você pode ser namorada(o) de algum diretor conceituado? Pode ter certeza que ele irá te escalar pra sua próxima novela.
10. Se não conseguir nada disso, faça um filme pornô. Muitos artistas começaram assim.
Siga corretamente essas dicas que, mais cedo ou mais tarde, você será uma celebridade. Eu lhe garanto.Mas tome cuidado. Depois de um tempo, essas celebridades instantâneas entram em órbita, caem no esquecimento e nunca mais ouve-se falar nelas.
Agora, entrarei num assunto que realmente me interessa. Ser ator. Não existe dez mandamentos para ser um bom ator.
Existe muito mais. É uma profissão extremamente complexa.
Antes de se desenvolver como ator, você tem que se desenvolver como ser humano. Como você vai interpretar, Hamlet ou Ofélia, se a sua alma é muito inferior à desses personagens? Se o seu ego é maior que a sua humildade e generosidade?
Se você procura contato com a platéia apenas por egocentrismo e vaidade? Se ama VOCÊ no TEATRO e não o TEATRO em VOCÊ?
Tenho certeza que muitos artistas não sabem o que estão fazendo quando estão em cena, qual a sua função social, o que pretendem atingir. Esses infelizes saem de uma escolinha de teatro qualquer, onde atuaram em grandes clássicos da dramaturgia universal como “As Bruxas de Salém“, por exemplo.
Fazem uma ou duas apresentações para os familiares e amigos, que acham tudo maravilhoso e após o término do curso, enchem a boca para dizer que são atores profissionais, só porque tem a porra do DRT nas mãos.
Grande bosta. Já trabalhei com muitos amadores que eram muito mais profissionais do que com àqueles que tem a carteira assinada e sua profissão regulamentada.
Hoje, a nossa profissão virou piada.
Qualquer um pode ter DRT. É só pagar.
E aquele ator talentoso, que não tem como pagar a taxa pra SATED,tem que dar um trampo de garçom, pintar a cara de branco, colocar uma bola vermelha no nariz e subir no palco como se estivesse animando festinhas de crianças nos Projetos Escolas da vida, tratando o público infantil como debilóides (coisa que não são), para conseguir grana pra pagar suas contas e a taxa abusiva do Sindicato pra conseguir o tão desejado DRT.
O grau de analfabetismo é tanto, que certa vez, nos bastidores de um teatro onde seria apresentada “Lisístrata“, uma atriz, chegou no camarim, “desesperada” e disse para outras atrizes que o Aristófanes estava na platéia. Todas sacaram a brincadeira, exceto uma, que acreditou realmente.
- Nossa - disse ela - ele veio da Grécia pra cá?


E todas riram da garota, evidentemente. Bem, nem tudo estava perdido. Pelo menos ela sabia que Aristófanes era grego.
Falta informação, faltam profissionais realmente capacitados, faltam bons orientadores. A classe artística é muito desunida e individualista. Por isso a Cultura está essa merda. É preciso urgentemente fazer alguma coisa. Senão, o que será do Teatro daqui há 10 anos?
Têm pessoas que vomitam teorias mas agem pouco. São puros punheteiros recém-saídos de alguma escolinha, que em seus devaneios em bares ou botecos decadentes, sonham com um modelo do teatro ideal. Mas a única coisa que conseguem atingir é o limite da mediocridade alcançada. Só.
Por isso (há exceções, evidentemente), o teatro está tão frouxo. Ou temos espetáculos comerciais ou espetáculos que não passam de masturbação mental que não dizem absolutamente nada.
Para finalizar, transcrevo aqui uma frase do grande Goethe: “Eu queria que o palco fosse uma corda bamba onde nenhum incompetente ousasse caminhar.”

Este artigo foi retirado do site http://oficinadeteatro.com/