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segunda-feira, 20 de junho de 2011

CineSesc - 20 a 22 de junho

16h30 – Sessão da tarde

Kirikou – os animais selvagens
Michel Ocelot e Bénédicte Galup
Livre
71 min
Do fundo da sua Caverna Azul, o Avô de Kirikou declara: “A história de Kirikou continua. No primeiro filme, não havia tempo para contar tudo o que Kirikou conseguiu fazer. Meu neto viveu muitas coisas legais, que não devemos esquecer. Ouça, então, enquanto eu conto a você mais histórias sobre Kirikou...”. Assim, o avô de Kirikou começa a narrar como o esperto menininho aprendeu a ser jardineiro, detetive, artesão, comerciante, viajante e doutor... enquanto continuou sendo sempre o menor e o mais bravo dos heróis.

20h - Mostra Curta Adulto

Salto Triplo - Srdjan Vuletic
14 anos
16 min
Um casal se separa durante os Jogos Olímpicos de Inverno, em 1985. Nove anos mais tarde, os dois se reencontram em lados opstos do terrível conflito entre os Servios e os muçulmanos de Saravejo.

Lágrimas Napolitanas - Francesco Satta
14 anos
18 min
Dois homens de personalidades opostas se enfrentam em um trem Nápolis-Milão na véspera do Natal. No fundo, a paisagem é colorida como cartões postais antigas.

Pedaços do meu coração - Peter Stauch
14 anos
15 min
A funcionária Sarah e o desenhista de páginas WEB Stefan são jovens, audazes e estão namorando, vivendo uma relação passional. Para eles não existe nada mais que o amor de um pelo outro.

A Camiseta - Hassein Martin Fazeli
14 anos
10 min
Metade americano, metade eslovaco, Mark tem convicções firmes. Durante uma viagem à Eslováquia, em um bar, ele encontra Tomas, que veste uma camiseta que coloca em questão algumas dessas convicções.

Tango Argentino - Guy Thys
14 anos
14 min
André conhece a dançarina de tango Suzanne pela internet. Ele pede a Frans, seu colega de oficina, que lhe ensine passos do ritmo, uma vez que faltam apenas duas semanas para o próximo baile.

O Ladrão - Irina Boiko
14 anos
16 min
Alexandros, de cinco anos, está feliz: vai passar férias maravilhosas na aldeia de sua avó, na companhia de sua prima Dina. Ele está disposto a tudo para impressioná-la. O problema é que, na sua idade, é comum ignorar o sentido de certas palavras.

A Copiadora - Virgil Widrich
14 anos
12 min
Um homem acorda e vai para o trabalho em uma copiadora. Quando testa a máquina pela manhã, acaba tirando uma cópia de sua mão, por engano. A partir daí, a copiadora passa a reproduzir outras partes de seu corpo. Assustado, ele deixa o local – mas passa a ver, desde este dia, cópias e mais cópias de si mesmo.

domingo, 8 de maio de 2011

Esquadros - Adriana Calcanhotto

Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

http://www.youtube.com/watch?v=WfOu66jJG7I&feature=player_embedded

terça-feira, 8 de março de 2011

NÃO SEI DANÇAR

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cáculo das probabilidades é uma pilhéria...
Abaixo Amiel!
E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtseff.

Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band.

Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda.

Mistura muito excelente de chás...

Esta foi açafata...

— Não foi arrumadeira.
E está dançando como o ex-prefeito municipal:
Tão Brasil!

De fato este salão de sangues misturados parece o Brasil...
Há até a fração incipiente amarela
Na figura de um japonês.
O japonês também dança maxixe:
Acugêlê banzai!

A filha do usineiro de Campos
Olha com repugnância
Para a crioula imoral.

No entanto o que faz a indecência da outra
É dengue nos olhos maravilhosos da moça.
E aquele cair de ombros...
Mas ela não sabe...
Tão Brasil!

Ninguém se lembra de política...
Nem dos oito mil quilômetros de costa...
O algodão do Seridó é o melhor do mundo?...Que me importa?
Não há malária nem moléstia de Chagas nem ancilóstomos.
A sereia sibila e o ganzá do jazz-band batuca.
Eu tomo alegria!

MANUEL BANDEIRA

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Índios - Legião Urbana

Composição: Renato Russo

Quem me dera

Ao menos uma vez

Ter de volta todo o ouro
Que entreguei a quem
Conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora
Até o que eu não tinha

Quem me dera
Ao menos uma vez
Esquecer que acreditei
Que era por brincadeira
Que se cortava sempre
Um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda

Quem me dera
Ao menos uma vez
Explicar o que ninguém
Consegue entender
Que o que aconteceu
Ainda está por vir
E o futuro não é mais
Como era antigamente.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Provar que quem tem mais
Do que precisa ter
Quase sempre se convence
Que não tem o bastante
Fala demais
Por não ter nada a dizer.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto
Como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Entender como um só Deus
Ao mesmo tempo é três
Esse mesmo Deus
Foi morto por vocês
Sua maldade, então
Deixaram Deus tão triste.

Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!
Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do iní­cio ao fim.

E é só você que tem
A cura do meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Acreditar por um instante
Em tudo que existe
E acreditar
Que o mundo é perfeito
Que todas as pessoas
São felizes...

Quem me dera
Ao menos uma vez
Fazer com que o mundo
Saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz
Ao menos, obrigado.

Quem me dera
Ao menos uma vez
Como a mais bela tribo
Dos mais belos índios
Não ser atacado
Por ser inocente.

Eu quis o perigo
E até sangrei sozinho
Entenda!

Assim pude trazer
Você de volta pra mim
Quando descobri
Que é sempre só você
Que me entende
Do início ao fim.

E é só você que tem
A cura pro meu vício
De insistir nessa saudade
Que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.

Nos deram espelhos
E vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Considerações sobre a arte "Callejera"!

Após muito estudo e leitura, cada dia mais vejo que ser artista é uma mera questão de puro trabalho, e nada mais. Sem esse papo de talento, dom, destino ou qualquer coisa do tipo. O que determina o sucesso nesta profissão é a vocação. Tudo é fruto das nossas disposições e vontades.
isso se reforçou ainda mais quando vi em um vídeo do Palhaço Chacovachi e a Palhaça Maku Jarrak, falam sobre as vantagens de ser um artista de rua. O artista de rua é livre. Um artista de rua possui a liberdade física, financeira e psíquica. Liberdade Física porque não precisa de um espaço específico, não precisa agendar, não tem paredes que o cerquem, ele pode ser apresentar em todos os lugares (é fato que existem alguns ditadores dificultando isso em alguns lugares mas isso não está em questão agora). Financeira porque se não pode trabalhar em um determinado lugar, pode se deslocar para outro e assim conseguir o dinheiro que precisa. E Psíquica, porque não precisa ser um grande artista. Não precisa ser reconhecido, ou fazer algo jamais visto antes, só precisa ser.

Um artista de rua está definitivamente condenado a ser livre, como diria Sartre.

Uma condenação fascinante...

Para quem queira ver o vídeo, acesse
Está em espanhol, mas é fácil de compreender.

Até logo!

Obs.: Sigam-me ou comentem para que eu saiba que alguém esteve aqui!

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

TÉDIO (com um T bem grande pra você) - Legião Urbana

Composição: Renato Russo

Moramos na cidade, também o presidente
E todos vão fingindo viver decentemente
Só que eu não pretendo ser tão decadente não

Tédio com um T bem grande pra você

Andar a pé na chuva, às vezes eu me amarro
Não tenho gasolina, também não tenho carro
Também não tenho nada de interessante pra fazer

Tédio com um T bem grande pra você

Se eu não faço nada, não fico satisfeito
Eu durmo o dia inteiro e aí não é direito
Porque quando escurece, só estou a fim de aprontar

Tédio com um T bem grande pra você

domingo, 2 de janeiro de 2011

FELIZ 2011! Amor pra recomeçar...

Eu te desejo não parar tão cedo
pois toda idade tem prazer e medo
e com os que erram feio e bastante
que você consiga ser tolerante

Quando você ficar triste
que seja por um dia e não o ano inteiro
e que você descubra que rir é bom
mas que rir de tudo é desespero

Desejo que você tenha a quem amar
e quando estiver bem cansado
ainda exista amor pra recomeçar,
pra recomeçar

Eu te desejo muitos amigos
mas que em um você possa confiar
e que tenha até inimigos
pra você não deixar de duvidar

Quando você ficar triste
que seja por um dia e não o ano inteiro
e que você descubra que rir é bom
mas que rir de tudo é desespero

Desejo que você tenha a quem amar...

Desejo que você ganhe dinheiro
pois é preciso viver também
e que você diga a ele pelo menos uma vez
quem é mesmo o dono de quem

Desejo que você tenha a quem amar...

PRINCÍPIOS TRABALHADOS - Aprendendo a Aprender

No início do ano passado, trabalhamos na disciplina de Interpretação II no Curso de Artes Cênicas da Uel, principalmente concentração, reconhecimento da própria energia, fluência do movimento tudo isso partindo principalmente da respiração e da coluna. Trabalhamos deste modo porque o corpo do ator deve ter uma segunda natureza que proporcione uma presença cênica diferenciada.

O conceito de corpo extracotidiano de Eugenio Barba consiste em se opor ao corpo cotidiano, no esbanjamento de energia, o que não significa que um ator que se cansa em cena possui uma presença extracotidiana, mas as técnicas extracotidianas tendem a colocar o corpo em forma, tornando-o artístico e artificial, mas também crível. Esta artificialização também está relacionada à pré-expressividade, precisamos saber representar a ausência de ação, um estado de prontidão, se descobrirmos esta pré-expressividade, descobrimos a substância de nossa presença cênica. Os caminhos para alcançar isto foram os exercícios que praticamos no início do ano, exercícios que focavam principalmente em nossa concentração e reconhecimento próprio.

Trabalhamos também com a máscara neutra, um caminho que para mim foi fundamental para absorver estes princípios abordados pelo Eugenio Barba, o que pra mim foi uma das melhores experiências durante o ano. Os exercícios com a máscara neutra praticamente nos obrigam a agir de modo diferenciado, a máscara praticamente impõe a pré-expressividade, pelo fato de ocultar as expressões faciais, e revelar todo e qualquer gesto desnecessário. Além de nos expor de um modo quase constrangedor. Quando estamos com a máscara neutra, não temos nada externo para nos apoiar, é como se não tivéssemos mais história, se fosse nosso primeiro momento em vida. Eu gosto, principalmente pelo fato de ser um momento de improvisação e criação durante a aula em que podemos escutar avaliações sobre o que estamos fazendo. Além de partirmos sempre de uma situação prévia.

Criamos também uma partitura onde deveríamos sentar, deitar, ajoelhar, levantar. Posteriormente a esta variação de planos trabalhamos variação de ritmo e foco. Depois disso vieram as relações trabalhadas em sala de aula. Trabalhamos com variação de equilíbrio, oposição de forças, impulsos através principalmente do enraizamento, e repetição.

O trabalho com esta partitura me deu o entendimento da dramaturgia do ator. Uma seqüência de atividades, ou movimentos que, transformadas em ações físicas, poderiam me levar para qualquer lugar, poderiam representar a idéia que eu quisesse, com fluxo de movimento, que partia da coluna. O movimento deixa de ser apenas um movimento e passa a ser uma ação física quando ele possui o significado de uma ação real e eficaz, que possui um objetivo, e quando efetuado sem falhas transforme-se em ação psicofísica. Por isso partem da coluna, do centro do corpo, porque são integrais, partem de uma vontade do ser humano.

Em uma oficina que Eduardo Okamoto deu a um grupo que eu participei antes de entrar na faculdade, ele detectou que o problema do espetáculo era a automatização com o qual fazíamos o espetáculo depois de seis meses apresentando por volta de três vezes por semana. Reconheceu ser algo natural na maioria dos grupos, mas que poderia ser modificado com exercícios de aquecimento e jogo partindo da coluna antes de cada apresentação.

“O exercício ensina a repetir. Aprender a repetir não é um problema. O problema é saber executar uma partitura sempre com maior precisão. Torna-se difícil no estágio seguinte, quando a dificuldade consiste em continuar a repetir sem torná-lo monótono, descobrindo e motivando novos detalhes, novos pontos de partida dentro da partitura.” (BARBA, Eugenio. pág.33, Revista do Lume)

Eduardo Okamoto trabalhou conosco passando aquecimentos parecidos com os que fazemos na disciplina de Interpretação II. Após este aquecimento, passamos o ensaio do espetáculo várias vezes com a orientação dele, nos estimulando a praticar todas as ações partindo da coluna. Todas as ações e reações tinham de passar pela coluna. Como foi um processo muito rápido, percebi e adorei a diferença, mas ainda não sabia exatamente como funcionava esta “fórmula mágica”. Eu tinha uma partitura cênica, era uma peça clássica, montada de modo tradicional, partindo do texto, estudei muito para chegar ao resultado do espetáculo, e tinha total segurança do que fazia em cena, apesar de muitas coisas terem sido impostas pela direção. Mas quando sofri esta interferência do Eduardo, percebi o quanto era mais verdadeiro, mais orgânico, aquilo que estava automático.

Conforme trabalhamos este ano nas duas disciplinas, tanto em Expressão Corporal II e em Interpretação II, fui descobrindo que a “fórmula mágica da coluna” é bem mais simples do que parecia. Pelo fato de a coluna ser responsável pela força, sustentação e equilíbrio do corpo, toda e qualquer ação que pratiquemos, passará por ela. Desde que nascemos, é ela que determinará se conseguiremos ou não realizar qualquer um de nossos desejos. É por ela que começamos a nos locomover, os membros, só colaboram para aperfeiçoar a ação da coluna. Através deste raciocínio, podemos não só voltar o foco para a coluna quando quisermos nos locomover em cena, o que já é uma função extremamente complicada, como a partir dela, acessar nossa memória corporal.

No segundo semestre começamos a trabalhar com figuras pré-estabelecidas, nó nos ossos, a caminhada do koshi, o samurai, o equilibrista e a gueixa, que serviam para artificializar nossa movimentação, além de nos fazer compreender que a diferença de postura, caminhada, tensão, interfere na atitude e na construção de uma personagem. Com a repetição destas formas e variação entre elas, compreendemos a modulação de energia e a possibilidade de criação através delas.

Na última aula que tivemos de Expressão Corporal II este ano, trabalhamos com o sistema nervoso, e foi uma das poucas vezes dentro das aulas que tive a sensação de uma totalidade do corpo, que foi proporcionada simplesmente com uma atenção maior voltada para mim mesma.

Geralmente para chegar nesse estado, precisava me aquecer e alongar muito, além de estímulos externos, alguém me falando o que fazer, ou trabalhando em grupo, até chegar a um nível de concentração que me causasse este nível de atenção. Pretendo trabalhar mais com o sistema nervoso, creio que seja inclusive um modo de acionar o tônus que me falta em cena.

Passei a descobrir a importância do autoconhecimento para me colocar em cena. A intimidade com o próprio corpo, a descoberta das próprias possibilidades e dificuldades me dá autonomia para criar com consciência, me dá independência, para que mesmo com um diretor, um texto, um espaço pré-determinados, eu possa fazer o meu trabalho de modo que ninguém faria como eu.

“Porque o treinamento vai além do treinamento, se converte em minha língua e em minha independência. Caso contrário, o teatro segue sendo o teatro dos diretores. De Grotowski que descobriu isto, de Eugenio que descobriu aquilo. Porém se os espetáculos parecem falar a língua dos diretores, qual é a língua independente dos atores?

É importantíssimo que os atores tenham algo que pertença somente a eles e que possam transmitir uns aos outros, sem passar sempre pelos diretores. Também porque são poucos os diretores nos quais se pode ter confiança. Quem sabe o preço que precisa ser pago para transmitir algo com todo o corpo seja a falta de palavras.” (RASMUSSEN, Iben N. As Mudas do Passado, pág. 22)

O treinamento proporciona um nível de técnica e segurança para o ator, que pode ser definido como: A Supermarionete, que foi assim denominada por Edward Gordon Craig. A Supermarionete é este ator que está pronto para executar qualquer trabalho, mas que tem a inteligência e independência escolher como executar este trabalho.

“O ator é o poeta da ação. A sua poesia reside, sobretudo e antes de mais nada, em como ele vive e reapresenta suas ações assim desenhadas e delineadas. Independentemente do tipo de teatro que faça, a sua poesia estará sempre em como ele representa, por meio de suas ações, para os espectadores. Não importa que caminho seja mais estimulante para ele, se decorrente de uma técnica de inculturação ou de aculturação, se por meio de uma certa identificação psíquica e emotiva com um personagem e sua interpretação ou se por meio da representação no sentido de reapresentar. O fato é que sua poesia estará sempre em como ele faz, modela, articula, dá forma às suas intenções, a seus impulsos interiores, ou ainda, em como esses impulsos e intenções tomam corpo e forma, em como se articulam transformando-se em ações físicas, em informação (racional, perceptiva ou estética).” (Burnier,Luis O. pág.35, 2001)

Este fragmento nos mostra a importância da autonomia do ator, se o ator é o poeta da ação ele precisa de autonomia para escrever o seu poema. Esta autonomia só se dará mediante treinamento.

“Treinamento é a rotina de práticas do ator sobre si mesmo; anterior e independente à construção cênica imediata (ao olhar e opções do diretor, iluminador, cenógrafo e, principalmente dramaturgo). É o ambiente em que se efetua a pesquisa pura de recursos técnicos e humanos e avalia-se o estágio de qualidade e envolvimento geral do artista com sua formação e, por extensão com a profissão. No treinamento, cada ator combina os exercícios conforme sua disponibilidade, interesse e domínio de execução, definindo um perfil exclusivo e pessoal para cada rotina. Ele refletirá um grau de qualidade e diversidade técnica tão mais ricos quanto forem o comprometimento pessoal do ator na manutenção da disciplina e no investimento para aquisição de novos conteúdos. Estabelece-se um compromisso global com a formação; e o aprimoramento dos recursos técnicos e humanos torna-se uma questão de auto-gestão e autoconsciência. Impõe-se uma nova postura do ator na relação com o conhecimento: quando treina, ele não o faz para um diretor ou professor, senão para si próprio (ainda que as atividades possam ser coletivas, o compromisso primeiro é com a disciplina e integridade pessoais diante do que se faz).” (LEONARDELLI, Patricia. pàg.26 e 27)

O treinamento é o espaço de investigação, pesquisa e descoberta do ator. É o momento em que o ator vai proporcionar ao ator o que Grotowski define como “uma técnica criativa que se enraíze na sua imaginação e em suas associações pessoais.” Devemos valorizar este espaço.

Stanislávski, no seu texto “Para uma ética no teatro”, compara os atores com músicos, bailarinos e cirurgiões, que tem uma rotina disciplinada de treinamento para aprimorar o seu trabalho, enquanto o ator não possui esta mesma disciplina. Ele afirma que os exercícios praticados pelo ator em uma escola não podem terminar com a formatura, nem podem se resumir apenas à sala de aula. Eles devem ser contínuos, para a vida toda.

“O exercício não é um trabalho sobre o texto, mas sobre si mesmo. Põe o ator à prova através de uma série de obstáculos. Permite que o indivíduo se conheça através da auto-análise.” (BARBA, Eugenio. pág.33, Um amuleto feito de memória)

Creio que este trabalho do ano todo, serviu principalmente como um processo de descoberta pessoal. Comecei a controlar melhor a minha ansiedade, e perceber que não adianta me comparar com os outros. Tenho que aprender a lidar com os meus limites não de modo que eu tenha que parar quando encontrá-los, mas ao reconhecê-los, buscar maneiras de contorná-los.

E que dentro do curso, nós tivemos diversas possibilidades até agora de encontrar modos de trabalho. Podemos nos servir do que quisermos em sala de aula para desenvolver o trabalho que quisermos.

Foi fundamental aprender isso pra mim. Creio que este entendimento talvez ainda não esteja presente em todos os meus colegas. Vejo que muitos ainda olham com preconceito para algum tipo de teatro, ou para algum tipo de trabalho que fazemos em sala de aula. O que eu percebi, foi que o treinamento que fizemos ate então, nos proporciona bagagem para fazer o teatro que quisermos. Basta olhar com seriedade tanto para o treinamento quanto para o trabalho.

Percebi também que pro tipo de trabalho que gosto de assistir, sempre há algum texto muito interessante, ou um tema muito profundo, na maioria das vezes é narrativo, mas trabalhos de dança como o da Marta Carrasco que vimos no Filo, que não era narrativo, mas tinha um tema que me interessou muito, para este tipo de teatro é inadmissível que eu leia pouco, tenha poucas referências artísticas e teóricas, como atriz, principalmente para o teatro que eu quero fazer, eu preciso ter o maior conteúdo de informação possível. Olhando para trás, tudo o que eu consegui criar e conquistar nesse ano foi devido à referencias artísticas que eu tinha, que não são muitas. Preciso ler muito mais, porque em um determinado momento, só o que eu li e estudei no Ensino Médio não será suficiente.