Páginas

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Conclusão do Ano - Parte I


Conheci o teatro na minha cidade, São José do Rio Preto-SP em 2005, quando ainda tinha 14 anos, e já sabia que queria ser atriz. Digo que conheci, porque apesar de já ter assistido algumas peças de teatro quando criança, e ter feito algumas “pecinhas” na escola, era muito superficial, não tinha um contato próximo e não era algo que fazia parte da minha realidade. A partir do dia 03/02/2005, o dia em que pela primeira vez estive dentro de um teatro para participar da reunião em que o Grupo Teatral Riopretense, iria escolher as peças que iria encenar naquele ano, foi quando mergulhei nesse oceano tão amplo que seria o teatro pra mim. Deste momento em diante, eu nunca mais teria dúvida em relação ao que eu queria para a minha vida: ser atriz.

Aprendi muito dentro deste grupo, e creio que foi ali que descobri o valor do estudo, da disciplina, do trabalho diário, do entrosamento da equipe e principalmente da paixão pelo teatro. É verdade que muitas destas coisas eu descobri justamente por sentir falta delas, era um grupo amador, e neste caso a importância dele para cada integrante do grupo, que era muito numeroso, era diferenciada. Enquanto alguns o tinham como um hobbie de final de semana, outros tinham como razão de viver, era o meu caso. Para mim, isso acontecia porque não havia dentro do grupo um compromisso profissional, eu acreditava que se todos considerassem o trabalho como sua profissão, seria levado mais a sério, e tanto o processo como o resultado, seriam mais satisfatórios. Mas é claro que eu, uma adolescente, não teria o poder de mudar a filosofia de um grupo, que já existia há 50 anos, em que todos os integrantes já eram adultos e tinham outras prioridades. Foi quando passei a participar de trabalhos de outros grupos.

Conheci diversos grupos e diretores, que possuíam metodologia de trabalho que não me agradavam. Eram extremos, ou muito grosseiros, ou muito relapsos, ou muito amadores, ou muito comerciais. Hoje vejo que o problema nestes grupos era sempre o excesso, eu que gostaria muito de trabalhar profissionalmente, conheci grupos em que por viver de teatro, a equipe se submetia a qualquer coisa. Outros eram profissionais apenas pelo fato de fazer da profissão um comércio daqueles no pior sentido da palavra, quase que um fast-food do teatro.

Não posso negar o quanto aprendi nestes grupos, e o modo como foram cruciais para que eu decidisse que era isto o que eu gostaria de fazer da minha vida. Eles me apresentaram o teatro, com todos os seus prós e contras, para que quando eu optasse por ele, soubesse exatamente qual o terreno em que estava pisando.

Mas percebi que para caminhar sobre este terreno, precisava de mais do que tinha vivenciado até então. Apresentaram-me o terreno, mas não me ensinaram a caminhar sobre ele, nem sequer me arranjaram um mapa. Queria ter autonomia para poder caminhar por este terreno, e sabia que isso seria fruto, única e exclusivamente do meu próprio trabalho. Já não encontrava mais o aprendizado, mas também não tinha segurança para que pudesse ter autonomia para criar. Tinha uma bagagem pequena para tomar as rédeas do meu próprio trabalho, mas já não concordava com os rumos que tomavam os grupos pelos quais eu já havia passado. Foi quando optei pelo curso de Artes Cênicas.

Desde o início do curso, percebi que encontraria o que esperava, melhorei minha postura, amadureci, aprendi a lidar com a diferença, passei a conhecer outros tipos de teatro, conheci teóricos que explicavam com exatidão muitas das coisas que eu esperava ouvir e esclareceram muitas coisas que eram de difícil compreensão pra mim. Mas ainda assim, não foi fácil, pois o processo de trabalho é muito diferenciado do que eu conhecia até então.

Identifiquei-me muito com o texto de Patricia Leonardelli, quando menciona suas dificuldades quando entra em contato com o treinamento de ator.

“Eu não imaginava que pudesse existir artisticamente independente dos contextos dramatúrgicos do texto escrito, das concepções estéticas do diretor, dos limites espaciais em que ocorriam as encenações. Porém, durante as aulas, na miséria e solidão a que meu corpo se reduzia após intermináveis e exaustivas atividades físicas, algo nascia, literalmente, dos escombros. (...) Nas primeiras aulas, simplesmente não conseguia elaborar quaisquer ações, sequer me mover. A criação sem o suporte do texto escrito parecia algo ridículo, um exercício de abstração e expressão corporal pura que poderia ser útil a dançarinos, mas nunca a Atores. Eu não sabia ainda, mas não produzia porque não havia quem me dissesse o que fazer, para onde me deslocar e com que intenção, e que sugerisse o meu comportamento expressivo. Meus recursos vocais eram razoavelmente desenvolvidos e os músculos mostravam-se alongados e fortes para o trabalho, porém o corpo parecia desintegrado do processo, como se não compreendesse a própria inteligência.” (LEONARDELLI, Patricia. pag. 26)

Quando li este texto, parecia um relato sobre o meu processo dentro da Universidade. Tive muitas dificuldades desde o início do curso para compreender o procedimento de trabalho e a nova rotina de vida. Cansava-me muito, ficava nervosa, e era questionada com freqüência, pelos professores e por mim mesma, sobre qual o teatro em que acredito, o que eu queria com o curso, o que eu esperava da profissão que eu escolhi. Ainda não respondi grande parte destes questionamentos, mas creio que alguns sejam difíceis de responder, mesmo depois de concluir a faculdade. Mas já estou controlando melhor a minha ansiedade, e começando a trabalhar com mais tranqüilidade e maturidade.

Isso se deu também pela compreensão daquilo que aprendi, técnica e filosoficamente, no decorrer dos dois anos de curso. Tive de me questionar, em vários momentos, e estive preocupada sobre que tipo de teatro que eu aprendia dentro da faculdade, se este teatro seria o que eu realmente gostaria de fazer. Hoje eu sei que aprendemos tudo dentro do curso, a opção do que pretendemos com isso, é que vai determinar qual tipo de teatro estamos exercitando.